"Sinto no dedo o anel de três alianças de prata. Deste-mo, tiraste-mo, voltas-te a dar-mo. Não ouso deixar-te no meio desta cidade de sete colinas. Não foi aqui que te encontrei. Ao primeiro olhar gostei de ti. Eras sem medida comum com a realidade que me cercava.
Sinto falta do espelho do meu quarto para que ele me reconheça. Não devia ter-te amado. Tu não gostas do amor. Tu não gostas senão do mesmo, do que se repete, do chá todos os dias, do prazer antes do sono, dos mesmos passeios, das mesmas pessoas de sempre. Dos mesmos livros, dos mesmos quadros, da mesma passagem de Proust que me fazias ler em voz alta enquanto bebias o teu chá de limão.
Nada parece deixado ao acaso na historia da tua vida.
Ao ouvir-te a tua vida era vasta e densa. No entanto, por vezes, parecia-me que pelo menos uma parte de ti tinha ficado pelo caminho, morta algures ou pelo menos perdida, e que tambem para mim estavas morto e perdido. Es receoso dos sentimentos. Repetes as mesmas frases. Procuro-te por detras da tua ausencia.
Esta noite o Porto é demasiado vasto e perco-me em mim.
Olho a cidade, os carros buzinam na noite. Já não consigo falar-te, nem sei como te alcançar.
Dizias-me:"És a unica pessoa que suporto ao meu lado. Não gosto das pessoas. Mas preciso de ti."
"O que detesto em ti", também mo dizias, "é julgares que não gosto de ti."
"Nunca me has-de conhecer, nunca saberas quem sou", também mo dizias quando ainda não sabia quem eras."
Pedro Paixão.
1 comentário:
Que linda :)
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