Paradoxo.

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«(...) É por isso que eu não fico satisfeito em sentir o que eu sinto se o que eu sinto fica só no meu peito.»

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

«Quantos anos vivemos ignorando saber o que sabíamos? Escondia-se de nós mesmos -daquela parte de nós que parecia clara, transparente - a sabedoria.
Numa noite de Verão, inesperadamente, abriu-se a porta para a escuridão do nosso destino. A escuridão exige, antes de mais nada, ser esclarecida.
A cegueira tinha consistido em agirmos de acordo com o que não sabíamos que sabíamos; o que é uma forma de ignorância. Por outro lado, que queremos dizer quando nos interrogamos:
«abriu-se a porta para a zona escura?» Sabemos agora o que não sabíamos? Existe enfim alguma coisa de que se pode falar, em que se pode reflectir atribuindo-lhe um nome, nomes, ou de que vemos enfim, mesmo se são confusas, algumas imagens? A resposta não se sabe qual seja. Isto é: ignoramos se acedemos enfim ao que, sabendo, ignoramos o que sabíamos. E por cansaço deixou de interessar-nos o assunto, pareceu-nos de uma complexidade do espírito. Já não queremos saber.
Evidentemente, deve haver alguma razão para acreditarmos que uma parte do desconhecido do espírito se deixou entrever como conhecido. Mas o quê, que conhecemos exactamente? Não sabemos nem pretendemos sabe-lo. Provavelmente faz parte da natureza do conhecimento que as coisas (as revelações) mais importantes permaneçam suspensas, em estado vago no interior da nossa vida mais intima. O que é a vida mais intima? Também não sabemos explicar o que é a vida mais intima. Se fossemos filósofos... Mas não somos filósofos, limitamo-nos a viver a vida. Já nos dá bastante que fazer a parte da realidade que é redutível á acção, que a acção pode modificar.
Além disso nada sabemos do amor, embora nos tenha acontecido, muitas das vezes, amar e ser amado. Ou pelo menos iludimo-nos com palavras e aparências. Pode acontecer que nunca o amor tenha sido um sentimento ao alcance do nosso entendimento. No exílio deturpa-se perigosamente a relação com o real; e consequentemente a relação com a linguagem.
Recordamo-nos, com frequência recordamo-nos de acontecimentos que tiveram lugar há muito tempo. Imaginamos que constituem um parte importante da nossa personalidade, pois de outro modo talvez os tivéssemos esquecido. Mas quem sabe se não é aquilo que esquecemos - ou que não conseguimos recordar verdadeiramente - que explicaria melhor, tanto quanto possível, em todo o caso, a pessoa que somos, as razões por que sofremos e nos alegramos, nos abandonamos á melancolia ou nos deixamos escravizar pelo entusiasmo. Mistério.»

1 comentário:

Inversão de Olhares disse...

Não sei como é possivel, o que é facto é que é real :x Bem real.
Já estou habituada, quando me cai uma coisa vai o resto atrás, cai tudo. A vida quer que eu cresça rápido e não me deixa viver, e eu, eu não consigo fazer nada contra.

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